O compositor Pedro Barroso actua no Teatro Virgínia, em Torres Novas, no próximo dia 12 de Dezembro, pelas 21h30.
A assinalar 40 anos de vida artística, numa celebração que é ao mesmo tempo um acto de evocação interior, o autor, cantor e compositor apresentará um espectáculo com as canções mais emblemáticas da sua carreira, que promete recuperar temas de ‘contemplação e resistência, a ternura, a portugalidade, a intervenção social, o erotismo, a utopia e a ironia social.
Foi uma surpresa. Fiz espectáculos muito emotivos por todo o país e houve uma resposta inesperada, para mim, por parte do público. Acho que as pessoas sentem fome de algo diferente, de uma atitude musical independente como sempre tentei ter. Nunca fui oco, não fui em modas e se, no pós-25 de Abril a minha música - como a de outros – foi considerada popular, era porque sentíamos a necessidade de fazer música para ser entendida por todos, que chegasse ao país e não fosse apenas algo de uma meia dúzia de intelectuais. Depois cada um de nós evoluiu de acordo com a sua sensibilidade artística e hoje acho que a minha música é mais de intervenção filosófica.
Houve quem afirmasse que a revolução faz-se na cabeça das pessoas. Hoje há um tamanho grau de cinzentismo, de infelicidade, de desequilíbrio, que é muito importante procurar na intimidade das pessoas e na ternura formas de modificar o estado das coisas. É isso que tenho procurado fazer de acordo com o que é a minha forma criativa de ser um eterno utopista. É essa a minha forma de criar música, que é a de colocar palavras inteligentes em músicas bonitas.
Há uma altura em que temos que ser honestos connosco próprios e com o público. Este espectáculo em Torres Novas será o último grande espectáculo mas vou continuar a compor, a fazer música, a gravar e a dar concertos, mas mais pequenos. Quero ter tempo para o Pedro Chora, o meu pseudónimo para a pintura, para dar uns passeios e para escrever mais. Aliás, saiu recentemente o meu quarto livro “Contos Anarquistas”.
Este concerto não é uma despedida. É apenas um último grande concerto, desses de mais de duas horas. São espectáculos que saem da alma, da garganta e do coração. É tempo de parar. Vou acabar com estes concertos antes que eles acabem comigo (risos). Não quero ficar a dever nada à qualidade e ao nome que construí.
Este concerto assinala exactamente o dia em que há 40 anos que estreei no Zip-Zip. Vai ser uma viagem a 40 anos de música, da que fiz e da que ainda que não gravei. Espero que todo o Ribatejo venha ver, desta pátria que é a minha e onde nunca cultivei qualquer tipo de “apartheid”. Sei das rivalidades entre Riachos e Torres Novas, mas se aqui faço o concerto, no Teatro Virgínia, é porque é hoje a principal sala do concelho e da cidade, aqui onde cresci e me fiz pessoa. Acredito que será um concerto de muitas emoções.
Disse que a afluência do público aos seus concertos foi inesperada. Acha que o seu trabalho tem sido bem tratado ao longo dos últimos anos?
Sinto que tenho um público fiel que gosta da minha música e que, inclusivamente, vem de longe para ver os meus concertos, como já aconteceu muitas vezes este ano. As rádios hoje funcionam num sistema de grupo de meios que passam os mesmos conteúdos em todos e que não apoiam algumas formas de música. Há muita falta de gosto na rádio e na televisão que se faz hoje em dia. Apesar de não me poder queixar muito da televisão este ano, até porque estive em vários canais a propósito desta comemoração dos 40 anos de carreira. Mas ainda assim, acho que falta um verdadeiro programa de televisão que seja de música, feito para músicos e pelos músicos.
Quanto a concertos, não me queixo de falta de trabalho. Nunca imaginei dar tantos concertos ou encher o S. Luiz em Lisboa num só ano. Era algo impensável há 10 anos e este ano isso aconteceu.
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