Permitam-me interromper a programação cultural para vos deixar um poema-soneto de Ary dos Santos que ouvi este domingo na Antena 1 no âmbito da Noite de Fado Académico de Coimbra e que o princípie das letras português dedicou ao seu amigo Adriano Correia de Oliveira. Nos últimos dias da sua vida, Ary dos Santos escreveu um conjunto de sonetos, entre os quais este poema que escreveu em homenagem ao seu amigo Adriano Correia de Oliveira.
"Memória de Adriano"
Nas tuas mãos tomaste uma guitarra.
Copo de vinho de alegria sã
Sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.
Foste sempre o cantor que não se agarra
O que à Terra chamou amante e irmã
Mas também português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã.
O teu coração de oiro veio do Douro
num barco de vindimas de cantigas
tão generoso como a liberdade.
Resta de ti a ilha de um Tesouro
A jóia com as pedras mais antigas.
Não é saudade, não! É amizade.
José Carlos Ary dos Santos
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão In Movimento Perpétuo, 1956
(negrito meu :P)
O CAPTAIN! my Captain! our fearful trip is done; |
|
The ship has weather’d every rack, the prize we sought is won; | |
The port is near, the bells I hear, the people all exulting, | |
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring: | |
But O heart! heart! heart! | 5 |
O the bleeding drops of red, | |
Where on the deck my Captain lies, | |
Fallen cold and dead. | |
O Captain! my Captain! rise up and hear the bells; |
|
Rise up—for you the flag is flung—for you the bugle trills; | 10 |
For you bouquets and ribbon’d wreaths—for you the shores a-crowding; | |
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning; | |
Here Captain! dear father! | |
This arm beneath your head; | |
It is some dream that on the deck, | 15 |
You’ve fallen cold and dead. | |
My Captain does not answer, his lips are pale and still; |
|
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will; | |
The ship is anchor’d safe and sound, its voyage closed and done; | |
From fearful trip, the victor ship, comes in with object won; | 20 |
Exult, O shores, and ring, O bells! | |
But I, with mournful tread, | |
Walk the deck my Captain lies, | |
Fallen cold and dead. |
Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.
José Carlos Ary dos Santos
Nem sempre sou igual ao que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem em mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...
Alberto Caeiro
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade
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